sábado, 5 de abril de 2008

algumas crianças(?) de 13 anos ainda brincavam de bonecas, eu sentava num computador e .. escrevia.

Ela o sentia; Ela sentia que ele estava lá. Olhava para a janela brevemente aberta, a lua estava escondida, o tempo estava frio, o clima, sombrio. Ao vento tocar em sua face, a menina lembrava de todos os seus abraços, perdidos, jogados pro alto; Eram como cartas descartadas, páginas viradas, um livro fechado. Era um livro fechado, daqueles que um dia já foi importante, um grande conto de fadas, e ao desaparecer, foi esquecido e apenas lembrado por aqueles que liam todos os dias sua história, que se interessavam em uma continuação, que acreditavam, no fundo, que aquilo mesmo aconteceu, ou então, que podia acontecer. Mas não importa, ele continuava esquecido.
O mundo parecia rodar devagar. Ela ouvia sua própria respiração, sentia o ato do relógio rodar, a cada segundo. Ela sentia, que ele não a tinha esquecido, e quando lhe falou que a amaria para toda a eternidade, ele não mentiu. Não, ele não mentiria para ela. No fundo, por meio de tantas brigas, ela achava que não era importante. Mas era. Nem mesmo nenhuma barreira, nem mesmo nenhum submundo, poderiam afastá-los. Ela continuava a sentir sua presença, seu perfume;
E de seus delicados olhos, caem duas lágrimas, uma lágrima de saudade, saudade de sua voz, de sua risada, de suas brincadeiras, das mais idiotas ás mais hilárias, saudade de suas roupas, de seus sapatos descombinados com o traje. E a outra, de arrependimento, por um dia ter lhe decpcionado, de não ter dito que o amava tanto, que ele era importante para ela. Talvez, ela tinha dito. Mas não o que realmente sentia. Um dia, ela decidiu falar; era madrugada. Ele achou que era besteira. Não adivinhava o que iria acontecer.
Mas ele estava ali, ela tinha certeza. Ela sentia medo, e ao mesmo tempo felicidade, ela queria abraçá-lo, queria sentir que quando ele disse que estaria com ela pra sempre não foram apenas palavras. Não importa o que ela tinha que fazer, falar, ela queria ele, somente ele. E sem ele, ela não vivia, e todo dia sofria com sua ausência, e não tinha mais pra que viver. Queria estar junto com ele, não importa aonde, se estivesse bem, queria rir com ele, se estivesse sofrendo, sofreria junto, mas ficaria feliz, apenas com sua presença. Ela não acreditava no que tinha acontecido. Ou não queria acreditar, e sonhar que no dia seguinte ele estaria ligando para sua casa, e a convidando pra sair, nem que seja pra ouvir ele tocar guitarra em sua casa, sentada em sua cama macia, e rindo de besteiras, ou talvez rindo pro nada. Daria tudo pra ter um momento desse de novo.
Não. Ela não acordaria com sua ligação. Ela não o veria de novo. As pessoas tentavam ser as mais realistas possíveis. Mas ela acreditava em sua própria fantasia. E na sua fantasia; ele ainda estava lá, de braços abertos.
Decidiu fechar a janela. E de repente tudo parecia quieto. O barulho dos carros, o rungido dos caminhões passando na rua. Tudo havia parado. O mundo parou, para sua chegada. Ele queria tê-la novamente. Abraçá-la, e contar que ele estava bem. Enxugar suas lágrimas e fazê-la dormir. Mas havia uma parede, uma parede invisivel. Ele não podia a tocar, ele não podia se comunicar com a menina. Seu coração doce ficava cada vez mais sombrio, ele a completava. Mas não havia o que fazer. Eles estavam separados, para todo o sempre.
E ele a via deitar, a via chorar, a via conversar com o vento, com a esperança que ele estivesse ouvindo; sim, ele estava. E queria responder, queria fazer ela parar de sofrer, queria que ela soubesse que ele estava ali. Mesmo assim, sua voz não saía, e ela continuava chorando, e escrevendo coisas que nunca ele iria ler. E ela pegava seu retrato, uma foto bonita, tirada num dia dia de alegria, junto com ele, numa moldura manualmente decorada e esculpida, que ela mesmo tinha feito, e que iria entregar a ele, no dia seguinte, de um certo dia. Não entregou.
Olhava para o ventilador de teto de seu quarto. Ele parecia rodar no ritmo de seu coração. Ela fechava os olhos, lembrava de mais coisas. Todos poderiam o ter esquecido, ou apenas lembrar de vez enquando com carinho. Era diferente, ela simplesmente não viva sem ele, estava a ponto de enlouquecer. Abraçava seu próprio corpo, mas ela já não tinha a mesma proteção que sentia junto com ele. Metade de sua alma, tinha morrido. E já não restava mais nada, nem o tempo a faria esquecê-lo. Mas ela não sabia; Ele a observava.
E ela conseguia ver seu próprio reflexo em um pedaço de aço deixado em cima de seu criado mudo, e ás vezes, dentro de seus olhos, conseguia vê-lo, e ficava olhando, sem piscar, apenas para um segundo de miragem sequer. Mas ela não estava satisfeita, sua vida já não tinha sentido, seu sorriso -, se é que existia sorriso - já não tinha aquela magia, as pessoas e o mundo pareciam mais injustos e hipócritas. Apenas ele, valia a pena.
E com toda a intensidade cravou em seu peito, aquele pedaço de aço, enrustido de uma leve camada de madeira, e uma terceira lágrima caiu de seu olho, uma lágrima de dor, e de adeus. E sua visão foi ficando escura, ela começava a não sentir mais seu corpo. Era como se flutuasse, e aos poucos que sua visão escurecia ela lembrava dos momentos que tinha passado com ele, e não se arrependia do que tinha feito. A sensação de estar deitada em uma cama repleta de seu próprio sangue era horrível, e a medida que ela ía adormecendo para um sono profundo, ele começava a aparecer, e se tornar cada vez mais nítido. E ela sorriu, e uma quarta lágrima caiu. Em poucos segundos, ela já não estava mais lá, apenas seu corpo, deitado, numa cama repleta de sangue e com uma expressão de felicidade no rosto, de tranquilidade. Ela já não estava mais lá. Ela estava com ele, cumprindo aquela promessa de um tal chamado amor eterno...

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